segunda-feira, 11 de março de 2013

Me despisto de mim
para não perceber
que não sou feliz.
Tudo passa, já ouvi dizer por aí,
exceto essa dor
em câmera lenta
que passeia sem patas sobre mim.
Todo dia acordo
Faço as mesmas coisas todo dia.
Sou máquina que caga e mija.
Desculpe as palavras feias,
mas a vida é suja mesmo.
Só em telenovelas ninguém peida
e a merda é segredo de estado.
Bunda, peitos e coxas - tudo virou sacanagem.
Ninguém respeita o corpo como santuário.
Ninguém aceita-o como ele seja
até que a morte os separe.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Meu verso
é da pedra lascada?
Meu verso
virou ladainha?
Meu verso
foi parar na latrina,
virou piada,
vai morrer de dispneia criativa?
Não, camarada.
Meu verso ainda está na tinta
da esferográfica,
no carvão do meu Labra,
pronto para ser palavra.
Olá, minha amiga, olá!
Manda-me notícias
do lado de lá,
se puderes me contactar.
Cartão ou carta
ou bilhetinhos por baixo da porta
não importa.
Necessito saber como estás,
em que mundo outro
tua nave foi pousar.
Saudades são tantas...
Às vezes pareço um tonto
a te procurar pelos cantos
não podendo te encontrar.
Perco a razão
mas não perco a poesia
minha linha
e combustão
minha pista de contra-mão
meu sim meu não meu sinalverde
meus botões
meu foguete
catabum!
alakasan!
Luz câmera e ação.

Moscas azuis

Cadáver decomposto,
ninguém reconhece teu rosto.
Em toda a tua vida,
fostes mais um na fila,
um mero pagador de impostos.
O Sistema esmagou teus ossos,
fez dos teus sonhos pó de cocaína
e cedo aprendestes a cartilha.
Teus veros amigos agora são outros:
moscas azuis
lambendo tua virilha

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Minha fé
não é de ferro.
Às vezes tenho medo
do inferno em mim dendro.
Às vezes me arrependo:
quero voltar,
quero partir
quero gritar,
correr peladão
no calçadão
da Beira-Mar.
Perdoa-me, Deus,
por mais uma mentirinha boba:
não sei rezar.