sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Meu verso
é da pedra lascada?
Meu verso
virou ladainha?
Meu verso
foi parar na latrina,
virou piada,
vai morrer de dispneia criativa?
Não, camarada.
Meu verso ainda está na tinta
da esferográfica,
no carvão do meu Labra,
pronto para ser palavra.
Olá, minha amiga, olá!
Manda-me notícias
do lado de lá,
se puderes me contactar.
Cartão ou carta
ou bilhetinhos por baixo da porta
não importa.
Necessito saber como estás,
em que mundo outro
tua nave foi pousar.
Saudades são tantas...
Às vezes pareço um tonto
a te procurar pelos cantos
não podendo te encontrar.
Perco a razão
mas não perco a poesia
minha linha
e combustão
minha pista de contra-mão
meu sim meu não meu sinalverde
meus botões
meu foguete
catabum!
alakasan!
Luz câmera e ação.

Moscas azuis

Cadáver decomposto,
ninguém reconhece teu rosto.
Em toda a tua vida,
fostes mais um na fila,
um mero pagador de impostos.
O Sistema esmagou teus ossos,
fez dos teus sonhos pó de cocaína
e cedo aprendestes a cartilha.
Teus veros amigos agora são outros:
moscas azuis
lambendo tua virilha

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Minha fé
não é de ferro.
Às vezes tenho medo
do inferno em mim dendro.
Às vezes me arrependo:
quero voltar,
quero partir
quero gritar,
correr peladão
no calçadão
da Beira-Mar.
Perdoa-me, Deus,
por mais uma mentirinha boba:
não sei rezar.
A noite
não é uma criança,
mas nela se fazem tantas!
Crianças como estrelas,
com(o) brotoejas,
piolhentas,
na sarjeta,
sob a tenda trágica da ignorância,
filhos da incerteza,
única mãe que não os abandona.
Sem arte
a vida é cega. Sem vida
a arte não cura.
A arte sem vida
não medra. Sem vida
a arte é muda.Sem arte
a vida é merda. Sem arte
a vida não presta. Sem arte
Deus nos acuda!


terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Anelo um poema

Anelo um poema
que rasgue o papel da tristeza,
tom de chocolate,
feito cachoeira
escorrendo entre meus dedos
e cabelos
ao fim da tarde.
Um poema de paz
e não pasmaceira,
que pinte a eternidade com lápis de cera,
que cante nos lábios da Esperança
a melodia da vida
que não cansa.
Onde ele esteja,
anseio encontrá-lo.

Réquiem

A morte
é uma rosa silenciosa
despetalada ao vento.
Não é coisa nova,
mas sempre nos surpreendemos.
O que leva consigo
deixa em nosso peito
em caracteres antiquíssimos:
a lembrança do ser querido,
seu arrebentado sorriso
que jamais esquecemos.