sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Para Olavo Bilac

"Ora (direis) ouvir estrelas!..."

As palavras
da boca da noite caem
como dentes:
são pérolas
de uma poesia comovente,
audível somente
ao coração do poeta.

De prata a lua plena
brilha em sua testa
e, ao seu redor,
os pirilampos fazem festa.

Há beleza em toda a esfera
para quem vê com olhos de pantera
num salto pra dentro da treva: o Poeta.

Coitados dos calangos!

Tudo
morto,
morrido
e matado:

moscas
velando
cadáveres
putrefatos

de calangos
baleados
por meninos
malandros.

Coitados
dos calangos!

Make love, not war


Meu amor
é arma
e bandeira
contra sua metralha.

Meu amor é lança-chamas
que se espalha
sobre palha
de cana,
consome as entranhas
do mundo canalha,
sacana.

Meu amigo,
eu quero amar.
Faz um favor?
Não atrapalha.
Não há teia
que me atenha,
nem grade
que me roube o horizonte.
Há sempre longe
uma fagulha de alvorada
após o que foi ontem,
negro véu de nada.

Não há preço
que me compre
na praça.
Nada tenho
que não deixarei às traças,
senão resmas antigas
de lembranças que não se apagam.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

 

Pensei em vc, Michele Oliveira, quando ouvi essa música.

Noite/Dia

A noite
como golpe de foice
veio e foi-se.

O dia
aos coices
no horizonte
ruborizou-se:

punho sangrento
na Via-Láctea.
Almejo
mais que desejo:
sonho.

Munido
de esperança
o cume
alcanço.

Não me atenho
ao brilho efêmero
do sucesso momentâneo.

Há sempre algo subterrâneo
a ser desencavado
nas galerias de dentro,

Um diamante bruto
a ser tratado. 

Agosto

Acabou-se agosto.
O gosto da despedida
permanece sobre a língua,

lúgubre
como a tarde despida,
em pele-viva.

Embalde
o sino daquela matriz
badalara: fica!
O ponteiro gira,
ultraveloz;
atroz algoz
da vida voraz,
vazia.
Meu peito
almeja
uma centelha
de amahã
sem telhas,

nós e amarras
rompidas,

sonhos manietados
por toda a vida,

maria-fumaça
fumando o futuro

sem nunca perder
o embalo da partida.

Poesia despropósito

fuso
confuso

fora
do eixo

contexto
absurdo

anos-luz
da lucidez
no balaio
da embriaguez


papagaio
mudo

embolia
verbal

desproposital

apatia
no varal

varando
vulto
vespertino

de domingo
sem sal.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Você nunca mais


Você nunca mais vai estar,
a não ser no que não posso tocar.

Eu tento me iludir com meus sonhos
e me sinto ridículo. Você nunca mais
vai estar aqui, para podermos dividí-los.

Não sei lidar com sua ausência.

Nunca vou me acostumar com isso.

Tenho medo de estar sendo chato
quando me repito: sua falta eu sinto
diariamente; dias santos, feriados,
sábados e domingos.

Sei que você não acreditava nisso,
dizia "não ser possível". Mas, acredite,
você foi a mais sublime alvorada
que amanheceu no meu caminho.

Com você
as horas brancas
eram vinho

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Sob a sombra
do assombro
: tetro grito,

teto
do medo,

ossos
de gelo
à iminência
do perigo.
O sol invertido
à hora do sono
conta ao nauta perdido
em maré de enganos
o caminho dourado
do sonho roubado
sob sua fuças afogadas
em salsugem marinha
(ou seria pó de Lua?)
Para Débora, minha profa. de teatro.

Nesse cantinho
de vaso em flor,
dança herbácea;
aos olhos,
cantiga multicor.

Alarido degustativo,
recorte do divino,
regalo de amor.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

meia-noite

hora
redonda

buraco vazio
na boca
da sombra

sonâmbulo

enigma
que me toma
em vótice
vertical

ao banal

bobageiras
etc. & tal

Metal físsil

no reflexo
convexo
do metal: o medo

(olhos vítreos
vidrados em mim);

não ser
o mesmo
nem amnhã
estar aqui.

Soneto insular


para minha irmã Bruna, que pensa que sou artista

Vento
copulando
com absurdo
verso

Grito

de areia
que a língua do mar
chicoteia

Inaldíveis decibéis
no dorso de corcéis
alados

Quem decifre
que seja
laureado.

Vendaval

fera
quase besta
quase mula
sem cabeça

fúria
traslúcida
assaltando

varais

não se sabe
de onde vem
ainda menos
que rumo tem

A respeito do tempo





para me pai Aloísio Alves, incentivaor dos meus rabiscos



O tempo
é parco,

mas há espaço
num micro-segundo
para todos os sonhos

absurdos.

Nosso legado:
o futuro.

sábado, 3 de novembro de 2012

Conclusões abstratas

Talvez eu seja
a última ervilha
no seu purê de batatas,

o que restou da festa
e ficou às baratas.

Talvez eu seja
sua única meia furada
entre calcinhas rotas
e camisas remendadas.

Provavelmente seria
a única linha disponível
às duas da madrugada.

Se você fosse minha
eu não pediria mais nada.

Itinerário do sonho

Podei
minhas dores
para colher sorrisos.

Reguei o sol
e ele incinerou
cada ocaso de meus descaminhos.

Valsei,
embalado por ventos alísios,
sobre cúmulos-nimbos,

mais alto que Ícaro
e sua parafernália vagabunda;

mais alto ainda
que os saltos de uma puta
rodando bolsinha
numa esquina suja.

Balões meteorológicos
não me alcançaram ainda,
porque vivo
no mundo da lua.