terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Lua

Para minha irmã, Bruna

Lenta
flutua
a lua
cabeçuda,

Lula
gigante
na noite
angustiante
que suspira
pelo dia.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Seu amor

Não perca de vista o seu amor.
Guarde-o, prenda-o
numa masmorra
à sete chaves
em um baú
de marfim
numa torre
de sonhos
guardada
por querubins.

Prenda-o, se preciso for
prenda-o, e não o deixe fugir
de seu coração
seu corpo, seu pensamento,
seus poros, sua cútis
seu amor
não deixe fugir
não deixe cair
não deixe quebrar
não deixe partir.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Abismo

Estou cheio de vazios.
Sou um abismo
dentro de outro abismo
que é a boca do abismo
de um abismo ainda maior
que é meu pensamento
e meu sonho
e meu anseio
e meu devaneio
e meu peito
e meu grito
e meu leito

vazio
tudo vazio
oco
     pouco
vazio
Sou cheio de vazios.

Paradoxo do amor

Amor é coisa que nós, os amantes,
ainda não compreendemos. Por isso sofremos.
Por isso choramos.
             É um paradoxo. Está acima de nós
                   e, ao mesmo tempo, está bem ao nosso lado,
                                 no alcane de um abraço,
                                              um pensamento,
                                                       um sonho.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Nota de indignação

Exmo. senhor,
não quero estar sendo reclamão
mas se assim preferir, pode me chamar
o que não dá pra engolir
é toda essa gente
levando vida decadente
enquanto o senhor, nem aí.
O senhor é uma estátua: não fala,
não vê, não ouve, não fede
não ri nem peida.
Com o perdão da palava,
o senhor não preta pra nada.

Só quero ressaltar, exmo. senhor
que foi esse povo mal educado, mal vestido e reclamão
que pôs o senhor aí, sentado nessa cadeira fofinha
de onde não parece querer sair.

Frente e verso

baleia jubarte juba
juba jubarte baleia
jubarte baleia jubila
baleia jubila jubarte
jubarte jubila jujuba
jujuba jubila baleia.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Café e poesia

Hoje acordei mais cedo
fiz minhas abluções sem pressa, como num filme em pausa,
preparei o meu café, comi o meu café com bolacha
da varanda de casa contemplei o sol que nascia,
bebi a brisa gélida que soprava em minha face
senti que a manhã surgia como dum parto longo e delicado.
Meus pensamentos, como costumeiramente, estavam contigo.
Escrevi poesia.

Apesar dos apesares

Para minha amiga Michele, que viajou para o Rio Grande do Sul e me deixou sozinho em Fortaleza. Meu mundo foi desfalcado!


Nada do que tenho te ofertado
é demasiado pouco para que fique insatisfeita
demasiado grande e pesado para que não possas carregar:
meu amor, que não preenche as linhas deste caderno
meu afeto, que te aquece no inverno do Sul
minha amizade, que te acompanha pela vida afora
me respeito, que sem ele o homem não é nada além das roupas que veste
                                                                      e dos trocados que leva na carteira,
meu pensamento, que sempre está contigo, apesar da distância 
                                      que sempre se interpôs entre nós, apesar dos apesares


Vazio

Sou triste
triste porque busco felicidade
e não a encontro
nessa praça
nesse banco
nesse poço.
Na brisa que sopra não a encontro
nem no tempo que passa
em forma e badaladas da igreja matriz.
Não a encontro em mim,
não a encontro em lugar algum.

Relva

Úmida
florida
verde-viva.

Que vontade me dá
deitar e adormecer
e só acordar quando o mundo for
um lugar bom de se viver
(nunca mais!)

Encontro

Quando nos vimos
havia luz
banco de praça
lago azul,
garças que devoravam peixes
um velho coqueiral
oscilando ao vendaval.
O relógio batia,
meio-dia.
Você estava atrasada,
se desculpava.
mas o tempo
era o que menos importava.

Quando nos vimos,
havia luz,
céu azul,
um bando de rolinhas que debandava
ao som das badaladas
da igreja matriz.
Meninos corriam,
velhos refletiam,
vendedores vendiam.
De tão grande, a felicidade não cabia em mim.


Feliz, eu corri.
Feliz, te abracei,
como se fosse a última
da última vez.
Quando nos veríamos novamente?
Não sei.

Movimento

Vai passar.
A ordem da vida é seguir.
Por mais que queiramos estar perto
estamos distantes.

Vai passar
e o que restará será apenas o silêncio;
não mais dor, não mais angústia,
não mais lágrimas,
inquietação.

Apenas o silêncio.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012


Andarilho

Minha casa é o mundo todo
esse banco de praça, esse poço
onde moças jogam moedas
desejosas de um esposo.

Minha casa não tem teto
moro no universo.
Sou favelado,
tenho casas para todos os lados.

Minha casa também é o coração
daquela que amo tanto, minha vida.
Nele tenho o mundo todo
momento em que desfruto paz
quando repouso a cabeça em seu colo
e adormeço vendo estrelas.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

De carne e osso

Eu não sou virtual
eu sou carne, eu sou osso
eu te toco, e eu te sinto.
Eu rio, e eu choro
se você diz que vai embora
e eu canto, eu danço
na chuva, na rua, no beco
desnudo ou vestido
se você diz que me ama.

Eu não sou virtual
eu sou vivo, ando de bicicleta
vou ao shopping, lavo a louça
e digo boa-noite.

Chovendo estrelas

Contra essa chuva
não há capa
não há teto
não há ponte.
O noticiário das onze não previu,
                                     nem o profeta,
muito menos eu, amor
que fiquei à deriva
a ver barquinhos de papel
e meninos que corriam
por baixo de pontes,
por baixo de postes,
sem medo, sem culpa,
atrás de sonhos que se desfaziam na chuva.
Etavam chovendo estrelas.

Chovendo amores

Correm os namorados
para apanhar seus amores perfeitos
que despencam aos montes, como manga madura
ou coco que desaba da palmeira.
A cidade está em rebuliço,
não se respeitam a regras,
o Brasil se transformou numa Marginal Pinheiros.
Há carros em cima de calçadas,
em cima de gente incauta,
em cima de um cachorrinho que atravessava a rua
alheio a tudo o que se passava.
Choviam amores. Era madrugada.
Em meu quarto, o sono não vinha.
Pensando no amor que não tinha
e que, talvez, despencasse do alto junto com aqueles milhares de amores,
escrevi poesia.

Filosofia do trabalho

O homem trabalha e nada tem de seu
além das roupas e do sapato, que já está furado.
A ele não é dado  o descanso, nem o lazer, apenas o trabalho,
máquina de carne, osso e pensamento
pensamento que devaneia, sonha com amores
futuros promissores
mas logo volta à sua realidade de engrenagens
cordadas e cabos e graxa,
pedra, peneira e suor.
O sonho não alimenta a fome
nem paga o aluguel.

Saudação matinal

Bom-dia, dia
Bom-dia, amor
Bom-dia, Benedita
Bom-dia, pastor
Bom-dia, padeiro
Bom-dia, leiteiro
Bom-dia, castor.

Bom-dia, minha filha.
Bom-dia, meu pai.
Como é que o senhor vai?
Vou bem, vou bem
muito bem bem bem
Quem ali vem?
É o cobrador.
Diga que não estou.