sexta-feira, 27 de abril de 2012

Dança mascarada

Máscaras que mentimos
esmagam o que sentimos
como uma grande serpente farpada.

Não quero com ninguém
uma dança mascarada.

Poupe-me

dos amores
de proveta
do riso
de plástico
das palavras
embutidas
dos abutres
da tua vida (pai, mãe,
tia). A monotonia
dos teus gestos
afogou meu saco
no tédio.
Roupas que vestimos
nada dizem do que somos.
Quando dizem, nos tornamos
possuíveis, corrompíveis,
corroíveis,
contorcíveis,
e s t r a n g u l á v e i s.
Não quero mito
menos ainda pesadelo.
Quero subtamente
apagão.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Eu não quero verdades absolutas.Minha luta é contra os impostores que estão vendendo Deus à prestação. Quem são, para monopolizá-lo? Quem são, para saber o que Ele quer de nós? Não necessitamos de intermediadores. Deus existe quando respiramos.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Capim

Por que
teus olhos
me olham
assim,
um pouco
tristonhos?

Às vezes
eu sonho
contigo
assim:
dançando
num campo,
sorrindo
e cantando
entre o
capim.

Paradoxo verde

É verde
o meu paradoxo:
Quero,
mas não posso.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Um pouco
de choro
para lavar
a alma

Um pouco
de cloro
para alvejar
a vida

Um pouco
de paz
para quietar
o espírito

Um pouco
de pão
para calar
a multidão

Um pouco
de luz
para aclarar
a mente

Um pouco
de verdade
para delatar
o que mente

Um pouco
de mim
dentro
de ti

Um pouco
de nós
no rol
da história. 

13

Talvez
eu esteja
ficando
maluco.
Vejo
vultos
ouço
vozes
de gente
que não
conheço.
Sinto
calafrios
quando passa
um gato
preto.
Credo!

Talvez
eu esteja
ficando
biruta.

On line

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É preciso

É preciso
dar sentido
ao que não vejo,
matematizar
o que não pode
ser compreendido.
É preciso
calcular
o risco,
riscar
da existência
o mito,
fingir
que o amor
é aritmético:
um mais um
é igual a dois,
e tudo pode dar certo.

Astros e dados

Os astros haviam previsto: aquele seria um ano bom. Muita coisa mudaria: sorte no amor; no âmbito financeiro, prosperidade.

Não importava alguma coisa saísse fora do que o Cosmo havia determinado, desde que sua viagem não malograsse. Há dias esperava por ela. Pedira contas do emprego duas semanas antes. Ligara para todos antecipadamente. E estava feliz, mesmo sabendo que em um peito amigo deixaria enorme saudade. Que fazer? A vida também era renúncia. E, afinal de contas, não seria definitivo. Prometia voltar para os festejos de fim-de-ano (primeiro a capital, depois o interior). Não estaria abandonado ninguém. Não era uma fuga. Apenas precisava conhecer novos ares e novos mares. Nunca havia andado de avião, e só a expectativa de alçar voo fazia alguma coisa dentro de si flutuar... Talvez os próprios miolos. Não temia ser chamada provinciana. Ela mesma admitia ser um tanto matuta. Tudo lhe era grande, ou profundo demais.

Astros e dados, cartas e búzios, todos haviam errado. Alguém lhe devia ter avisado: vista um casaco, tome seus remédios!

Mas não queria ser motivo de preocupações. Mesmo as peças não estando no lugar, diria sentir-se bem, e, com esperança, aguardaria mais aquela ventania passar.


No escuro. a gente confia ao máximo no que não pode enxergar. Por isso, amo o que não vejo; sinto uma euforia boba em apenas tocar, e descobrir lentamente. Minha boca, meu tato e meu olfato... Cada parte do meu corpo é lume.