quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Para meu epitáfio



Viajo aberto,

peito avião.

Medo de altura não tenho,

nem de solidão.

Minha caixa-preta é meu verso,

meu caixão.

Comigo não levarei decerto

cacarecos,

a tralha que tanto prezo.

Minha pressa,

meu atropelo

dissolvidos estarão

numa casquinha de sorvete.
meu coração às vezes
é  bomba de confetes
às vezes meu coração
pensa que é moleque
confesso que, às vezes
meu coração eu sinto leve
meu coração é poesia
feito flocos de neve
É preciso um nós,
um nó
entre nós;
deixar de lado a hipocrisia.
Só o amor
justifica a vida.
É preciso estar em harmonia
o ser inteiro:
corpo,
alma,
dinheiro.
Como o jardineiro,
podar os exageros,
cultivar um melhor gesto;
por mínimo que seja
ele se fará estupendo.

Poema para Katarine

Felicidades,
minha amiga.
Mui sinceramente
desejo-te amor.
Que amar
seja teu extremo
sereno.
Que teu gigante
ser pequeno
por todos os poros
exale esse olor
aos quatro ventos.
Que teus anos
sejam aquarela
mesmo aos quarenta,
motivos de festa
e riso,
esteja teu bolso liso
ou estourando tua carteira.
Que amigos tenhas
como hortas de feijão,
dignos
de serem ditos irmãos.

Mesmo desnaturado
estarei sempre a teu lado
(em pensamentos alados)
segurando tua mão.

Guarde este poema,
pois é documento histórico
de minha afeição.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Não há nada
que um pouco de conhecimento
não responda.
O conhecimento espanta
a hoste da ignorância.
Quem o conhecimento ama
deixou de lado sua espada,
sua lança,
para ser amigo de Deus;
aprendeu a ser criança.
Escrevo
o que na mente vem:
para o mundo,
para ninguém.
Se no telhado
não tem gato,
fico alegre
com lebre.
O verso é meu brinquedo,
minha forma de ser eu mesmo
sendo muitos, porém.
Teço minhas artérias,
dispo minhas misérias,
minha constelação de ilusões
ou meu contento.
Posso ainda não ter engenho,
mas bem sei o que anelo.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Nenhuma vela
na cela
para sonhar


Nenhum brilho
ou círio
para aclarar

Nenhuma semente
latente


Somente a pedra
no pescoço
para afogar,

a forca
e a última força
para gritar.


Eu

esta forma inconstante
esta forma flutuante
amante
do que não vê

esta
forma suplicante

vaso vazio
raso
para o que se quer ter

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Sei que sou a falta
na mesa e no retrato
ao teu lado.

Sei que sou a fuga
a falha
a rachadura
motivo de tuas lágrimas
motivo de tua fúria
movimento contrário
anti-sossego
da lua.

Sei que sou precário,
mas não tenho cura.

Gosto de rua

O dióxido
entorpeceu meus sentidos.
Para os xingamentos
já nem ligo.
Tantas luzes me ofuscaram
que deliro:
penso que vivo em constante
mundo natalino.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

   ar         te
        ar
                  te (´r i a)
ar        te
       a    mar


terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Em branco

Risca,
rabisca
apaga.

Espera
desespera
despedaça.

Contêiner

O mundo todo
mora no meu umbigo;
de cabo a rabo
levo e trago
o que for:
chinelo,
chuveiro,
charuto,
isqueiro,
flor de plástico, sem cheiro;
porta-retratos, vazio
(lembrança do que ainda não veio);
calções elásticos,
pneumáticos,
todo o lixo
que afoga nos rios,
afaga a vaidade
e depois é esquecido
num monturo
junto a uma placa de "proibido".

Espelho

Olho (nariz, boca)
para ter certeza.
Ainda estou aqui,
embora o essencial
tão longe se perca.

Aqui jaz

Armas,
ogivas,
ojerizas;

norte, sul,
oriente, ocidente;

ismos
e mismos.

O mundo respira,
finalmente.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Quando a noite calar minha poesia

Quando a noite,
lupina,
vier provar sua foice
em minha poesia
serei verso
ao avesso,
verei a vida de dentro
sem cabresto,
serei vento
tocando flauta pã em meu esqueleto,
meu coração estará repleto
de coisas verdadeiras

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Sol
        Lá
               Si
                    dói assim
                    meu coração
               Si
       Lá
Sol
       com você
       tudo é tão..  

Cantiga do socorro

Cordas do meu bandolim
acordem o amor
dela por mim

Cordas do meu violão
não quero perdê-la
do meu coração

Cordas do meu violino
fazei-me de novo
nascer menino

Cordas do meu contra-baixo
curai-me do peso
de haver pecado

Notas do meu flautim
plantai um festim
no meu jardim

Notas do meu pistão
trazei-me de volta
o que era bom

Mariverso

Vejo
e velejo.
Não invejo.

O que não sei
um dia será meu também.

Em desalinho

meu corpo
e o caminho

Alento ao coração

parece um arco-íris
mas é  tua íris
refletida no meu pensamento

Passarada


passarela alada
na imaginação

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Vou sair
vou ver se me acho
por aí, numa cratera de asfalto, tentando fugir
vou ver se me ganho um trocado
vou ver se me engano
com algum divertimento fácil
e barato;
vou consultar búzios,
oráculos,
vou bater atabaques
vou rodopiar em giros anti-deprimentes.
O que vai ser
o que vai dar
Deus saberá.
Quero dizer
o que ficou entalado
em times new roman,
novo tempo,
novo abecedário;
deixar bem claro
para que não se possa entender o contrário,
duplo-sublinhado,
subtitulado,
todos os direitos reservados.
Cansei do verbo mungangueiro.
O que eu disser
seja por inteiro
livre
desatado

Outro novo
de novo
para chamarmos de velho
no próximo ano-novo.

Outro novo
e os velhos abraços se repetem,
as velhas promessas
de não fazer de novo.

Se o novo ficou velho
de tanto querer de novo,
pouco importa.
O que vale
é nosso riso
que sempre se renova
- e a birita,
que sempre rola solta.