sábado, 6 de agosto de 2011

A tempestade

Era tarde da noite e chovia torrencialmente quando ela me ligou. A princípio, achei que fosse algo urgente, mas era da chuva que ela tinha medo. As gotas gotejando em seu teto feito metralhadora ameaçavam levá-lo abaixo. Pedi que se tranquilizasse. Não adiantou. Ela queria porque queria que eu fosse até  sua casa dar um jeito naquilo.
Eu não estava disposto a levantar da cama e encarar a noite gélida que me aguardava lá fora. Sem meias palavras, disse-lhe que não podia. Ela entrou de vez em pânico. Então iria deixá-la morrer sob os escombros do teto de seu quarto?
 - Pelo amor de Deus, mulher! Nada vai acontecer.
Mas eu não estava lá para ver. As gotas eram como soldados marchando compassadamente: poc, poc poc. O teto gemia como se dissesse "não posso mais!". Uma tragédia iria acontecer, se eu não aparecesse logo, iria! No dia seguinte a TV e os jornais impressos estariam repletos com a trágica notícia de sua morte.
Bem antes disso, porém, a tempestade havia cessado, tão súbita quanto surgira. Ficamos ao telefone - eu aqui, aliviado por não precisar abandonar minha cama; ela, do outro lado, aliviada de não estar morta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário