Helena olhou o telefone e descobriu que tudo o que mais queria no
momento era ouvi-lo tocar: três toques, era a senha. Não precisava
atender. Saberia que Eduardo estava à sua espera, do outro lado da rua.
Nada, porém - e ela inquietou-se ainda mais. Algo diferente havia
acontecido, algo que não estava nos planos. Eduardo sempre fora pontual
em seus compromissos, ainda mais aquele; não entendia por que se
atrasara. No casamento da prima fora o primeiro convidado, chegando à
igreja antes mesmo que os noivos. Foi por causa de sua pontualidade no
emprego que concederam a ele a importante tarefa de abrir e fechar a
loja - assim não haveriam atrasos.
Muitas vezes Helena ralhara com essa mania, o que ela chamava de
"esquisitisse"; a eficiência de Eduardo era quase submissão. Ele, no
entanto, nanca mudara, tornando sua mania um hábito.
Agora haviam-se passado cinco minutos desde que o telefone permanecera
mudo. Helena aproximou-se da janela da sala. Procurou, procurou,
procurou. Nenhum sinal de Eduardo à vista, sequer vestígios de que
estivera ali. Voltou a fazer companhia ao aparelho. Minutos depois
estava roendo as unhas. Nunca tivera esse hábito antes. Sua mãe era quem
roía as unhas frenéticamente quando tinha o pressentimento de algo, não
ela.
Preferia não pensar no pior. Não, isso não. Talvez ele apenas estivesse
preso num congestionamento dentro de um túnel, onde celulares não
pegavam; ou talvez estivesse numa loja qualquer... comprando flores para
ela!
Por mais otimistas que fossem, nenhuma dessas hipóteses pareciam prováveis. Deus!, o que havia acontecido?
Oculto atrás de um poste, Eduardo a observava. Não tinha coragem de se
mostrar ou de enviar o código que haviam criado para driblar a
vigilância do pai de Helena. Seu coração havia se apaixonado por outra.
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