Desde quando éramos molecotes arruaceiros, mamãe nunca permitiu que
mascássemos chiclete; que andássemos descalços ou mesmo que disséssemos algum palavrão, vá lá; mas mascar
chiclete - nunca! Seu argumento infalível era que, quando mascávamos
chiclete, parecíamos jumentinhos mastigando capim; além do mais, ela não
suportava aquele barulhinho irritante de borracha que a mastigação
produzia: nhéc, nhóc, nhéc, nhóc. Irritava-se logo e metia um safanão
em quem quer que estivesse mascando o detestavael chiclete em sua
presença.
Receosos de que fôssemos pegos, mascávamos na rua, às
escondidas. Éramos onze, ao todo, e juntos formávanos uma espécie de
sociedade secreta - como os Cavaleiros da Távola Redonda, só que em menor número.
Nosso segredo só era revelado com a ida ao dentista.De lanterninha
em punho, ele examinhava nossa boca cutucando nossa língua com um palito de
picolé(aquilo dava-nos uma sensação horrível, tínhamos ânsia de vômitar); fazia umas caretas que os médicos costumam fazer quando descobrem
que algo não vai bem e sentenciava :"Este menino está com cáries". Mamãe nos
lançava aquele olhar que conhecíamos tão bem
.
Depois da consulta com o dentista, morríamos de medo de voltar para
casa, pois sabíamos - ah, e como sabíamos! - que a maior surra de todas
as nossas vidas nos estaria aguardando.
Porém não tomávamos jeito nunca. Mal nos curávamos das pancadas e
beliscões que mamãe nos dava, estávamos reunidos novamenste para mascar o
bom e velho chiclete.
E aos poucos nossa sociedade foi crescendo, agregando os novos garotos
que chegavaam ao bairro, de modo que nos tornamos uma organização tão
complexa, que nem mesmo mamãe (ou a polícia) era capaz de frear nossos
atos ilícitos.
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