Hoje é segunda-feira e não há nada que a torne diferente da
segunda-feira anterior. Às nove horas já estou desperto, porém
indisposto a levantar-me da cama. Passo mais algum tempo deitado, meio
que indeciso quanto ao que fazer das horas livres que terei ao longo do
dia. Talvez leia um livro ou escreva alguma coisa. Talvez assista a um
programa na tevê. Gosto de desenhos animados, eles me fazem rir um pouco
- ao contrário dos telejornais, sempre carregados de novidades
trágicas. Hoje eu não quero saber a quantas andam a guerra no Oriente
Médio. Pouco me interessa saber quem matou quem a quantas facadas, ou o
que será dos japoneses, depois de terem sofrido enorme tragédia. Não me
leve a mal, é que prefiro estar à parte de tudo isso. Também não suporto
ver meus irmãos combatendo-se em guerras, enquanto aqui estou de
camarote, assistindo a tudo pela tevê.
Sei que esta segunda-feira será como as demais outras. Daqui a pouco
estarei de pé, olhando minha cara enrugada no espelho do banheiro.
Enquanto escovo os dentes, estarei pensando em coisas que poderia ter
feito e deixei de lado; estarei pensando em meus erros, querendo voltar
ao passado e consertar coisas quebradas,. Quando criança, eu mesmo
consertava meus brinquedos quebrados - não ficavam tão bons quanto
antes, mas voltavam a funcionar. Queria poder fazer o mesmo com as
coisas da vida.
Daqui a pouco estarei tomando meu café amargo, deglutindo o pão
adormecido. E meus pensamentos continuarão vagando por caminhos ermos,
até que finalmente a encontrarão. Este, ultimamente, tem sido o único
lugar onde posso encontrá-la novamente, abraçá-la mais uma vez; dizer
que a amo e que morreria por ela, morreria para que vivesse um pouco
mais feliz. Reconheço que errei - errei muito -, e a única coisa que
peço é a chance de me retratar. Mas é tarde, demasiado tarde para pedir
perdão. Meus erros a magoaram e agora ela se fechou em seu casulo, seu
mecanismo de auto-defesa contra as coisas da vida. Seu mundo não mais me
pertence. Perdi seu coração.
Já não mais tenho certeza de nada, anão ser de que hoje é segunda-feira,
um dia como qualquer outro. Estou deitado em minha cama, contemplando
os buracos em meu teto. Daqui a pouco vou levantar. Daqui a pouco vou
tomar meu café. Talvez assista a alguma coisa na tevê, se vontade me
der. Caso contrário, estarei lendo ou escrevendo alguma coisa.
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