sábado, 17 de setembro de 2011

Duas cartas

Era carnaval. O ano... Isso importa mesmo? Não, não importa. Importa que, enquanto o Rio de janeiro e as demais cidades festeiras comemoravam, enquanto as escolas de samba escolasambavam e os corpos requebravam, um sabiá-coleira morria em sua gaiola... de velhice, imaginem! A seu lado, sua dona chorava; tinha apenas nove anos. Era justo que aquelas coisas acontecessem? Ela não compreendia, assim como também não compreendia por que Deus dava tanto a uns, enquanto os que realmente precisavam morriam de fome.

Decidida, levantou-se de onde estava, foi preparar um caixão para seu amiguinho, do tamainho que lhe competia; uma caixa de sapatos serviu. Também escreveu dois bilhetes, que guardou secretamente, para que ninguém os descobrisse. Um, destinou-o a Deus. Em letras redondas, disse-Lhe que não eram justas as coisas aqui embaixo; se Ele era mesmo bom, como todo mundo dizia, que desse um jeito de acabar com as guerras, a fome, a violência... enfim, com todas as coisas que enfeiavam a Terra.
A segunda carta era destinada a Papai Noel. Nela, a menina apenas fazia um pedido: que no próximo natal lhe desse um sabiá com certificado de garantia.

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