quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Em nome de nossa amizade

A última vez em que a vi fazia um calor de lascar, mas ela parecia não se incomodar com aquilo - usava óculos escuro e sobretudo pesado, mais parecia Sherlock Holmes do que minha velha melhor amiga. Perguntei se não estava sentindo calor. "Não, claro que não", respondeu ela com naturalidade. Estava bem como estava. Era hábito seu vestir-se daquela maneira, assim não poderia ser notada com anta facilidade. E de fato levei algum tempo para reconhecê-la quando a encontrei recostada à parede de um barzinho imundo, debaixo de um alpendre. Ela me estendeu um pacote, cautelosa, olhando repetidamente para os lados.Agia como se estivesse cometendo um crime.

- Faz tempo que estava guardando isto aqui para você - disse ela de maneira apressada. - Não é grande coisa, é só uma lembrancinha que comprei numa lojinha de variedades e pensei em comprá-la para você, um presente em nome de nossa amizade.

Eu não esperava grande coisa, como uma Mercedes ou um bilhete premiado da Loto Só o fato de estar ali, pertinho da minha amiga, depois de tanto tempo ausente, já bastava por tudo.

Desembrulhei o pacote ao mesmo tempo que abri meu melhor sorriso - coisa natural, não premeditada.

- Que lindo! - foi tudo o que consegui falar, antes que ela me atacasse com os braços abertos.

Nosso reencontro foi breve, mas intenso. Depois disso tivemos uma discussão e nunca mais nos vemos.


P. S - O presente era um pequeno cartão com a foto de dois filhotes de gatos abraçados um ao outro. No verso do cartão, um pequeno poema onde ela dizia o quanto era bom estar comigo e poder contar os problemas. No rodapé, uma breve dedicatória:

de Ana Paula
para Gustavo.

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