quinta-feira, 14 de julho de 2011

À espera de um milagre

Ele não era um menino rico. Nunca tivera brinquedo caro nem nunca morara em casa de luxo. Contentava-se com  três refeições diárias - às vezes, nem isso. Quando podia, ajudava a mãe nas tarefas de casa. Ela, mesmo doente, procurava sempre dispensar a ajuda do filho, pois queria-o na escola, tinha esperanças de transformá-lo em doutor. No entanto, recebia como bem-vinda a contribuição do menino quando a dor de cabeça lhe era insuportável. Fora ao médico algumas vezes. Da última, voltara com o coração pesado: um tumor maligno havia se alojado em seu cérebro, numa região onde não podia ser operado. Poucos dias de vida lhe restavam.
Seus olhos enchiam-se de lágrimas ao pensar nisso. Seu filho, o que seria dele, sozinho neste mundo? Como ia tocar a vida? Temia que, sem perspectivas, partisse para o caminho do mal. Era o que geralmente acontecia. Os noticiários sempre estavam anunciando mortes de adolescentes que se envolviam no mundo da criminalidade.
Ao mesmo tempo que pressentia o fim, seu corpo fraquejando lentamente, rezava a Deus, todos os dias, para que algo acontecesse - uma cura milagrosa, talvez, por parte dEle ou da medicina.
 Mas não aconteceu. Três meses depois, numa cama de hospital e em estado irreconhecível, havia morrido silenciosamente. Seu filho, ao lado, apertava-lhe a mão, como se, numa tentativa inconsciente, quisesse agarrar seu espírito, que voou como borboleta arrastada pelo vento.
Ele seria um bom menino, prometia. Faria de tudo para vencer na vida e dar aos filhos o que ele mesmo nunca pudera ter. Frequentaria a escola mais assíduamente. Formaria-se doutor, como a mãe tanto quisera.

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