terça-feira, 12 de julho de 2011

Ser bailarina



Desde pequena seu maior sonho era ser bailarina, e já cedo ensaiava seus primeiros passos. Rodopiava, rodopiava, rodopiava; no meio da sala, no jardim ou mesmo trancada em seu quarto. A mãe advertia que ela pudesse se machucar, ficar tonta e cair no chão, mas a menina não dava ouvidos - não que fosse uma filha desobediente, mas por tudo aquilo fugir de seu controle. Não raro, imaginava-se num salão luxuoso, cercada de pessoas bem vestidas, para quem dançava e era calorosamente aplaudida. Outras vezes, via-se num importante evento de gala, sendo premiada como a maior bailarina de todos os tempos; a mãe também estava lá, e era quem mais ovacionava. Na escola, muitas vezes fora chamada à atenção, pois distraía-se facilamente, deixando de lado a aula para desenhar nas margens de seu caderno pequenas bailarinas rodopiantes. "Um dia vou ser gente grande", pensava ela, emburrada por ter sido tirada de seu devaneio tão abruptamente, "e não vou mais ter que vir à escola. Vou ganhar dinheiro, ser famosa e muito feliz."

Os anos foram passando. Veio a adolescência, as primeiras espinhas e as incomodantes cólicas menstruais. As bonecas foram substituídas por um primeiro namorado e os livros de fadas, por romances melosos de finais previsíveis; orgulhava-se de possuir em sua prateleira a coleção completa da saga de vampiros criada por Stephanie Meyer, sensação entre as garotas de sua idade.

Outros sonhos vieram e se foram com as águas turbulentas em que sua vida havia se transformado. Quanto ao seu sonho de menina, ela nunca chegou a ser bailarina nem entrara para uma escola de balé, mas ainda guardava os muitos desenhos e rabiscos que fizera em seus tempos de infância.

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